quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Um apelo à Nação

Quando se trata de quantificar a estupidez humana, qualquer esforço se torna tão estúpido quanto a tentativa em si. O mesmo acontece com as comparações. “A França foi pior do que Mariana”; “A Vale fez pior que o Estado Islâmico”. Assistir a esse debate só reforça a afirmação feita na abertura desse parágrafo.
Mas refletir sobre fatos relevantes do cotidiano, aí sim, me parece uma ação válida, principalmente se conseguimos extrair lições válidas, não para o passado, mas para nosso futuro e o das gerações que se seguirão.
Se você não estava em outro planeta, se lembra do acidente com o avião da TAM em Julho de 2007, quando um Airbus não conseguiu parar na pista do aeroporto de Congonhas, atravessou a avenida Washington Luis e explodiu, matando 199 pessoas, entre passageiros e pessoas no solo. Um acidente assim causa autêntica comoção. Um monte de gente morrendo de uma só vez, talvez alguns conhecidos, talvez amigos de amigos, talvez você até tenha voado naquele mesmo avião há pouco tempo. Possivelmente, você até mesmo já pousou ou decolou em Congonhas, e se voou de TAM, no mínimo já esteve dentro de um avião igualzinho ao que explodiu. As familiaridades tornam a situação, de alguma maneira, próxima. E aí, a comoção é incalculável. O curioso é que nosso cérebro emocional simplesmente vira as costas ao racional, e se esquece que naquele mesmo ano, quase 67.000 pessoas perderam as vidas no trânsito de nossas cidades e rodovias, o que, traduzindo em miúdos, dá praticamente um avião da TAM POR DIA, com 183 vidas ceifadas a cada 24 horas por acidentes de trânsito. E porque não nos damos conta? Difícil dizer, mas provavelmente, porque essas mortes parecem acontecer em doses homeopáticas. A Folha de São Paulo não estampa na primeira página que “hoje morreram 183 pessoas nas estradas brasileiras”. O Jornal Nacional não mostra imagens de carros explodindo. Ou seja, de alguma forma, se não está no jornal e na televisão, parece que não aconteceu, a não ser que aconteça com alguém próximo. E mesmo assim, a comoção toma apenas a vida das pessoas que são ligadas ao fato, e não a coletividade da população.
Irracional? Talvez... Possivelmente, tanto quanto algumas reações ao atentado terrorista dessa semana na França.
É verdade que é difícil imaginar um ato mais covarde do que um ataque terrorista. Morrem inocentes, sem qualquer chance de defesa. Pessoas de bem têm subtraídas da forma mais estúpida possível, o seu direito à vida. Morrem por uma causa que não é a delas, por um motivo qualquer absurdo e que só faz sentido para aqueles que imputam o mal.
Mas vamos lá. Faço um apelo ao seu senso crítico e, até onde for possível, à sua capacidade de olhar a situação sem deixar que o aspecto emocional e aquela comoção coletiva da qual já falamos anteriormente tome conta do seu raciocínio: você já se deu conta de que nosso País tem sido uma vítima permanente de ataques terroristas por parte das “lideranças” políticas e empresariais que aí estão, se apoderando das instituições e da vida dos brasileiros?
Você duvida? Analise comigo algumas características normalmente presentes em um atentado terrorista:
1. Muita gente morta por motivo torpe
Em Paris, a contagem final irá passar de 200 mortos; no World Trade Center, em 2001, foram mais de 3.200; no Brasil, segundo a OMS, mais de 4.000 mães e mais de 50.000 bebês morrem no parto todos os anos. Enquanto isso bilhões são desviados da saúde, da segurança e da educação em prol da “causa” do PT e dos seus aliados.
2. Os que arquitetam toda a ação são movidos pura e simplesmente por poder, e usam a ignorância e ingenuidade das massas para prometer o paraíso e fazê-las agir em prol das suas “causas”
O Estado Islâmico usa a religião para embutir um propósito na ação dos terroristas que praticam os atos, prometendo o céu e recompensas inimagináveis àqueles que sacrificarem suas vidas pela causa. Isso mantém os seguidores cegos e doutrinados. No Brasil, qualquer semelhança com o Bolsa Família, transformado no ópio da população mais pobre, não é mera coincidência.
3. Os líderes dos movimentos terroristas são movidos por uma causa aparente, mas no fundo o que procuram é proveito próprio às custas da vida de milhares ou milhões
Lá, é a religião e a necessidade de extirpar todo o mal do mundo (de acordo com os critérios deles...) que tenta revestir de nobreza a sanha de poder e a intolerância pura e simples. Aqui, é a causa dos “mais pobres”, de melhorar a vida da população de baixa renda que embeleza o discurso petista, mas que já caiu por terra há muito tempo quando percebemos todos os dias que a única motivação dessa gente é colocar mais e mais dinheiro no próprio bolso, não importa de que forma e às custas de quem.
4. Famílias são dilaceradas pela ação dos terroristas
A cada ataque terrorista, centenas de famílias ficam despedaçadas para sempre, afetadas pela perda de entes queridos e pelos impactos psicológicos da tragédia; no Brasil, são mais de 150 mortes por dia, mais de 50.000 brasileiros vítimas de homicídio todos os anos. Calculou quantas famílias para sempre dilaceradas? A segurança pública é abandonada à míngua, sem recursos, enquanto mensalões e petrolões sangram os cofres públicos deixando os policiais de bem órfãos e à mercê de bandidos.
5. Os que arquitetam ataques terroristas são mestres em criar uma situação de “nós contra eles”, como se fossem os arautos da defesa do que há de correto no mundo e todos os que têm opiniões contrárias merecessem a morte ou coisa pior
Lá, é a Guerra Santa que move os jihadistas em sua cruzada contra o mal do mundo, representado pelos infiéis do ocidente, criando o pretexto para a ânsia de poder político e econômico que move os líderes dos movimentos. Aqui, é a Guerra dos “trabalhadores contra o capitalismo opressor”, que justifica tudo em prol de uma falsa causa que se revela uma falácia, já que todos os dias fica mais evidente que a única motivação dessa gente é agir em causa própria.
Acho que você já entendeu meu ponto. É impossível permanecer inerte frente à violência presente em um ato como o que acometeu Paris nesta semana. É uma ameaça clara à civilização tal e qual a conhecemos; uma ode à intolerância e um atentado contra os valores e princípios arduamente conquistados pelos que nos antecederam, e pelos que vieram antes deles. Pintemos nossas fotos do perfil do Facebook com as cores da França, em solidariedade e para demonstrar que estamos juntos, em um mundo unido por um propósito comum, tal qual na música de John Lennon. Mas talvez, tentar deixar de lado a comoção momentânea provocada pelas tragédias pontuais e olhar a realidade como ela é nos ajudasse a perceber o permanente estado de terrorismo instalado em nosso Brasil. Vivemos sitiados, com medo, sendo roubados e ludibriados todos os dias. E a consequência disso, em números e modus operandi, em nada difere das consequências de ataques terroristas clássicos: vidas são destruídas, famílias são dilaceradas, e vemos as nossas crenças e esperanças de um futuro melhor serem soterradas (sem trocadilhos cretinos com Mariana) pela insensatez, ganância e falta de caráter de uns poucos. Como sempre falo, tudo é uma questão de escolha: podemos nos indignar com o que acontece lá fora e permanecer cegos para o que acontece no nosso quintal, em um mundinho mesquinho e de fantasia; ou podemos acordar de uma vez por todas e começar, ainda que devagar, a fazer a nossa parte. Então você está indignado com o que aconteceu em Paris? Eu também estou. Mas além disso, estou farta de ser alvo de atentados terroristas disfarçados de práticas democráticas em nosso País.