segunda-feira, 27 de outubro de 2014

As mãos de meu pai

As suas mãos meu velho pai, tinham grossas veias, como cordas azuis em manchas de cor terra.
  - Como eram lindas suas mãos!
  Porque eles lidaram, acariciaram ou vibraram na nobre fúria das pessoas corretas...
Porque havia em suas mãos meu velho pai, essa beleza que é simplesmente chamada vida.
E à noite, quando elas descansavam nos braços da sua cadeira favorita, uma luz parecia sair de dentro delas.
Talvez essa luz fosse da chama que gradualmente você estava sentindo na terrível solidão do mundo, como quem junta a lenha e tenta acendê-la contra o vento.

E era ainda a vida que transformava suas mãos nodosas .... este fogo da vida, que ultrapassa a própria vida, e que os anjos um dia chamaram alma ...

Crianças

Entre a inocência da infância e a compostura da maturidade, há uma criatura encantadora chamada criança. Embora sejam encontradas em tamanho, pesos e cores sortidas, todas as crianças têm o mesmo credo: aproveitar cada minuto de cada hora de cada dia e protestar ruidosamente (pois o barulho é sua única arma) quando seu último minuto é ordenado e adultos, os empacotam e os colocam na cama.
Crianças são encontradas em toda parte: em cima de, em baixo de, dentro de, subindo em, balançando no, correndo em volta, pulando ... As mães as amam, irmãos e irmãs mais velhos as suportam, adultos as ignoram, o céu as protege. Uma criança é a verdade com o rosto sujo, a beleza com um corte no dedo, a sabedoria com chiclete no cabelo, a esperança do futuro com uma rã no bolso. Quando você está ocupado, uma criança é uma conversa fiada, intrometida e que incomoda.

Quando você quer que ela cause uma boa impressão, seu cérebro vira geléia ou ela se torna uma criatura sádica e selvagem empenhada em destruir o mundo ao seu redor. Uma criança é um híbrido: o apetite de um cavalo, a energia de uma bomba atômica, a curiosidade de um gato, os pulmões de um ditador, a imaginação de Jules Verne, a timidez de uma violeta, o entusiasmo de um bombeiro e quando ela começa a fazer alguma coisa é como se tivesse cinco polegares em cada mão. A criança gosta de sorvete, canivete,  varas, animais de grande porte, pais, fins de semana e feriados e mangueiras de água. Ela não concorda com a catequese, escola e livros sem imagens, aulas de música, colarinhos, barbeiros, roupas, adultos e "hora de dormir". Ninguém se levanta tão cedo, ou chega tão tarde para o jantar. Ninguém se diverte tanto com: árvores, cachorros e mosquitos. Ninguém é capaz de colocar em um bolso: uma faca enferrujada, uma maçã comida pela metade, cinco metros de corda, um saco plástico, dois chicletes, três moedas, um estilingue e fragmentos de substância ignorada. Uma criança é uma criatura mágica; você pode mantê-la fora de seu escritório, mas não pode expulsá-la de seu coração. Você pode colocá-la para fora da sala, mas não pode tirá-la de sua mente. Goste ou não, ela é seu captor, seu dono, seu patrão, um anão, um saco de problemas. Mas, quando, à noite você chega em casa com suas esperanças e sonhos reduzidos a pedaços, ela possui a magia de soldá-los em um segundo, respondendo a duas simples palavras: "Olá Papai, Olá mamãe " ....

Infância

O que é a infância? 
A infância é quando temos medo de alguma coisa - do bicho papão- por exemplo. 
Quando começamos a temer os livros de José de Alencar, por exemplo, já estamos na adolescência. 
Nossa infância, sabemos quando ela começa, mas reconhecemos que nossa infância não tem tempo para terminar. 
É na infância que começamos a abusar da palavra "nós". 
Nós nunca lembramos do nosso primeiro "soutien", mas nunca esquecemos o nosso primeiro par de peitos. 
É só na infância que podemos descobrir: os frutos do quintal do vizinho nunca tem bichos. 
Meu primo Fernando sempre pedia presentes no Dia das Crianças. Ele parou de pedir presentes no dia das crianças em que se tornou velho o suficiente para precisar de um barbeador.. 
A professora fazia a chamada: "Maura Cristiani" - Eu queria dizer "ausente" - mas eu não tinha feito teatro ainda. 
Jogo na quadra. Marcamos: 10 vira 20 termina. Scoreboard diz 19 a 19. O ponto Olímpico da vitória, esse eu nunca esqueci. Não é importante para ninguém. Só para mim. Infância ... 
E quando outras pessoas nos chamavam "crianças", nós os odiávamos, e queríamos crescer o mais rapidamente possível, amanhã ... 
Depois que crescemos, mesmo que só um pouquinho, como infelizmente é o meu caso, descobrimos, ao mesmo tempo que outras coisas que a nossa infância nunca termina. As memórias daquele tempo, levam mais tempo do que o tempo que levamos para crescer. 

Depois que somos considerados "adultos", descobrimos que o que parecia ser esperteza é apenas ambição e o que parecia infantilidade é apenas inocência.

Noite e dia

Noite

Molhando os pés na beira-mar, fixei os olhos nas estrelas,
por momentos viajei, desejando perder-me na imensidão do mar.
Fui tocada pela brisa, que me quis levar,
esvaziou o meu ser, entregou-me ao luar.
Em adiantadas horas já não era eu, mas outra qualquer.
Transformada pelas estrelas, que se bebem com água.
 agitada pelas luzes da cidade
As ruas tornam-se iguais num espectáculo de luzes.
Ouço o barulho dos copos nas mãos dos bêbados.
O aroma dos charros paira no ar.
Olhos brilhantes percorrem as estradas, levando a beleza a portas de discotecas.
A beleza nas discotecas, evapora-se na luz do Sol.
Tudo na noite é superficial.
Aprisionei a mente na agitação da noite,
quis sentar-me nas estrelas e vislumbrar a cidade.
Senti-me acompanhada dentro da solidão,

rasgada por estrelas cadentes que atravessam a escuridão.
Pensei sonhar acordada, por fim adormeci.

Dia

As dores possuem a cabeça,
a má-disposição acorda a realidade.
No dia vive-se a verdade,
repleta de solidão e tristeza.
Na ausência das estrelas, tudo se tornou vazio.
O céu opaco de fartas nuvens,
pode conter arco-íris mas não tem cor.
A cidade abstrai-se de qualquer encanto ou magia.
Olhares atentos em janelas,
dão vida a línguas murmuradoras que contam tudo o que vêem.
Os meus olhos lembram-se daquilo que não têm,
lamentando lágrimas de tristeza profunda.
Carros enchem as estradas, as ruas tresandam a lixo.
As camas enchem-se de ressaca,
no realismo de um mundo feio e sem nexo.
A mente habita-se de pensamentos paranóicos,
Ansiando pelo fim do dia